11 de setembro de 2011

“Dentro do globo de neve na escrivaninha do meu pai havia um pinguim usando um cachecol listrado de vermelho e branco. Quando eu era pequena, meu pai me punha no colo e pegava o globo de neve. Virava-o de cabeça para baixo, fazendo toda a neve se acumular na parte de cima, depois o desvirava depressa. Ficávamos os dois olhando a neve cair suavemente em volta do pinguim. Eu pensava que o pinguim estava sozinho lá dentro, e me preocupava com ele. Quando disse isso ao meu pai, ele respondeu: “Não se preocupe, Susie, ele tem uma vida boa. Está preso dentro de um mundo perfeito.”

    Um olhar do Paraíso.

9 de setembro de 2011

"- Alô?
- Oi, não fala nada, só escuta. Sim, tenho plena consciência de que são 2:32 da manhã, ou melhor da madrugada, e que você odeia que te acordem. Sei também que você tá com o coração acelerado porque como sempre, o toque do seu celular é estridente. Mas olha, estou fazendo tudo isso por um bom motivo. Lembra da minha amiga, a Gabriela? Então, ela me apresentou um cara tão lindo, tão inteligente, alto, másculo, e que usa meias referente aos pares. Ele tem dois cachorros dóceis, e mora em um apartamento no centro de São Paulo que é ma-ra-vi-lho-so. Mas antes que você pense que eu liguei pra fazer ciúmes, eu liguei porque eu vim aqui pra sacada fumar, e comecei a chorar. Tava passando ”P.S: eu te amo” na tv por assinatura, e sabe, eu lembrei de quando deitei no sofá com você, e reparei que você usava uma meia de cada par. Você chorou igual criança assistindo, até que aquelas suas duas cachorras monstras resolveram brigar por causa daquele bichinho de pelúcia verde, que você apelidou de melequinha. Olha só, que coisa estúpida, eu fumando. Fumando porque quero parecer mais cool e mais descolada, mas estou chorando porque lembrei que o melequinha era tão engraçadinho. Tá vendo? Eu sou uma burra. Mas você, você também é. Burro por me deixar ir embora, burro por não lutar por mim. Te juro que só mais um pedido para que eu ficasse, eu ficava, e ficava pra sempre! Mas você, como sempre, disse que eu já era grande demais pra decidir o que fazer da vida. Mas vida, que vida? Vida sem você? Não existe. O cheiro desse cara que a Gabi me apresentou é de perfume importado, você sabe o quando sou tarada por perfumes. Mas eu largaria esse cheiro de Paris ou de banco de couro de carro novo, não importa, pelo seu cheiro de cebolas, após uma tentativa frustrada de um jantar romântico. Tô chorando mais ainda. Por que você não me pega no colo, diz a ele que sou sua, e me leva pra sua casinha, meu indie, hippie, sei lá, que tem cheiro de lavanda, hein? Hein? Já se passaram 6 meses, vi suas atualizações nas redes sociais. Vi você começando e terminando relacionamentos como quem começa e termina uma barra de chocolate. E eu não falei nada. Quer dizer, até agora, porque você é um idiota, sabe que me ama e não faz porcaria nenhuma. Mas enfim, além de estar fumando e chorando, eu também tô bebendo. Bebendo muito, mas nem assim esqueço. Você sabe o quanto me faz falta? Todos os poemas de Vinicius me lembram você, e os toques, os sorrisos, as piadas, são tão sem graça se não há você do meu lado, bagunçando meu cabelo e mordendo meu pescoço. Mas tá bom, tô falando demais, né? Você ainda tá aí? Tô falando tanto e nem reparei se a sua respiração tá no outro lado da linha
- Tô respirando sim (risos).
- (risos) Que bom então. Desculpa te acordar, te dizer tudo isso, na verdade, eu só tô um pouco cansada, esquece o que eu disse, eu nem gosto mais de voc …
- Que horas te busco?
- Agora.
- Tô indo, te amo.
- Vem logo, tá frio. Amo você também."
O conflito na sua cabeça era a prova de que seus pensamentos estavam confusos e desesperados. Seus sentimentos já não eram mais os mesmos e tudo o que ela queria era acabar com aquela guerra árdua entre seu cérebro e o seu coração. Um dizia à ela racionalmente para fazer o que trazia grandes possibilidades de felicidade, o cérebro claro. Mas o coração, ah o coração, ele queria que ela sofresse, não exatamente assim, mas ele queria que ela amasse, ele queria se entregar, queria viver um amor de verdade, então ele não pensou muito bem nas conseqüências que isso lhes traria.  A vontade de amar inundava a sua alma, mas a sua vontade de não sofrer era maior ainda. Ela calculava todos os dias as probabilidades de se apaixonar e não concorrer aos resultados negativos que isso lhe traria. Mas ela sabia muito bem que isso significava sofrer em dobro. Ela já não aguentava mais a pressão de seus sentimentos e o desprazer que aquilo lhe causava. Tudo o que ela queria, era silêncio  … Silêncio entre as duas partes mais conflituosas de seu corpo, o seu coração e o seu cérebro.

Tudo bem..

Às vezes a gente precisa eximir o outro da culpa de não nos amar para que ambos possamos seguir em paz.
O cenário é simples e mais comum do que parece: você ama uma pessoa e seria capaz de tudo por ela, você tem qualidades e poderia fazê-la muito feliz e ela sabe muito bem disso, mas, apesar e acima de tudo isso, esta pessoa não ama você.
É preciso entender e aceitar que muitas vezes esse "não-amor" ultrapassa o limite do que seria a vontade da própria pessoa, ele sabe que seria feliz se te amasse, ele reconhece seu valor, compreende suas virtudes e seria a pessoa que mais ganharia se pudesse e conseguisse optar por você. Ele queria te amar pra resolver um monte de pendências que existe nele mesmo, mas não foi, não aconteceu.
Aí é preciso mutias vezes liberarmos o outro dessa responsabilidade infeliz de não ter chegado lá para que a felicidade possa enfim chegar, para nós e para ele.
Demora uma vida pra a gente entender que quando o outro diz que nos ama, ele não está simplesmente sendo um "cafajeste metido a conquistador barato" que visa nos aprisionar numa história que já não existe. Demora pra gente entender que, muitas vezes, alguém nos ilude não apenas pelo simples prazer de iludir, mas por saber que, no fundo, aquela seria a melhor opção pra todos os corações envolvidos.
Até que a gente saiba dividir as coisas e compreender o outro leva um tempão de dor, angústia, tristeza e sofrimento. Energia empreendida e desperdiçada, xingamentos, mágoas e muitas brigas.
Mas chega um dia que a gente acorda diferente. Parece que a gente acorda com o dom de ver os outros por dentro e, de repente, a gente entende o porquê de ter passado por tudo aquilo. O que era difícil se torna descomplicado.
Aí, quando esse dia chegar, você não vai aniquilar esse amor de dentro de você, nem vai mais desejar que Deus te arranque esse sentimento que te fez tanto mal. Você vai olhar com carinho pra pessoa que você ama e vai dizer o seguinte num momento que ela insistir em dizer que percebeu que te ama e que precisa de você: não, você não me ama. Eu sei que você queria me amar e sei o quanto você se esforça pra isso, tanto que às vezes você fala para mim tentando convencer o seu próprio coração, mas infelizmente (e é infelizmente para você) isso não é verdade. Eu entendo você e te libero dessa obrigação de se esforçar pra me oferecer um amor que não existe só pelo fato de ser o mais correto comigo e com você mesmo. Eu sei que você evitaria muita dor pra gente se o amor fosse algo menos complexo e mais fácil de se delegar. Se pudéssemos ser recíprocos e justos quando assunto é amor, não haveria ninguém sofrendo em função dele por aí. Amor é desmedido mesmo, é sentimento que foge à razão e a qualquer noção de equilíbrio. Pode viver em paz e mergulhar de cabeça nas suas escolhas, não precisa olhar pra trás porque eu tô bem, de verdade. Meu amor nunca foi condicionado a nenhuma outra coisa e justamente por isso nunca deixou de ser amor, então de uma forma ou de outra eu sempre estarei aqui e você sempre vai me ter por perto, mesmo que o perto seja um pouco distante, então pode ir, sem medo.
Aí você vai se sentir especial e gigante, isto vai te dar uma sensação de alívio tão grande porque nem foi preciso que você gritasse, que chorasse, que se desesperasse, pelo menos não dessa vez.Vai parecer que finalmente o seu coração entrou em um acordo com a sua razão e você fez o que era preciso ser feito.
Amadurecer deve ser um pouco isso... Ou não. Mas, certamente, viver é.

5 de setembro de 2011

Eu nunca vou saber, né? Tinha vontade de ligar e perguntar, inquirir, mas... que diferença faria? Não faria. Saber ou não saber quaisquer motivos não faria diferença alguma.
Engraçado que eu me lembro de dizer isso pra você igualzinho, quando era sobre aquela história outra, e você ficar fitando o teto da sala sem entender coisa alguma. E, puta que pariu, que semana mágica foi aquela.

Talvez eu nunca descubra se foi invenção ou se houve alguma coisa, algum lampejo, e no fundo você só teve receio. Talvez eu inventar na minha cabeça que você teve foi medo do que poderia ser, seja só uma forma de ajeitar essa narrativa louca, frustrada de tudo que a gente (não) viveu. Mas podia.

E... é no pretérito mesmo. E eu começo a achar isso bem triste porque vc está indo embora... de mim... Aqui dentro, sabe? Absolutamente irreversível. E eu fico com aquela sensação meio adriana-calcanhoto-vem-vambora-você-tem-meia-hora-pra-mudar-a-minha-vida... mas vai passar. Porque eu me conheço e eu já comecei a achar você estranho. Meio idiota até. E eu lamento, sabe? Profundamente? Porque podia ter sido incrível. Absoluta e irreversivelmente incrível. E nunca, nunca mais vai ser.

É isso. Um brinde a todas às impossibilidades não-vividas ... pra que elas se libertem, sabe? E talvez o mundo gire e você tenha sempre com você a incógnita do que nunca vai encontrar por aí... (nem tão cedo.) (Não como a gente.) (Não como eu.)

Só que eu não vou estar mais aqui.